Ambos fabricantes não costumam fornecer muitos detalhes de suas placas-mãe.

Apesar de ter dado à sua nova extrusora um nome curto, cativante, e até um pouco divertido, a placa-mãe da Creality é chamada de CR-FDM-v2.4.S1_v301. É quase certo ser uma variação das placas 2.4.x de 32 bits da empresa (a Ender 3 V2 usa a 4.2.2). Ela vem equipada com drivers de motor de passo silenciosos, embora não seja dito em nenhum lugar quais são esses drivers — e também não podemos verificar isso por estarem encobertos por dissipadores de calor e pasta térmica. Nós perguntamos à Creality mas não tivemos resposta.

Olhando para as máquinas antigas da Creality, sabemos que havia drivers TMC2208, TMC2209 ou TMC2225, e por isso é razoável supor que se trata de alguma combinação desses drivers na S1. Mas não espere fazer nenhum tipo de controle avançado no firmware deles sem ter que colocar a mão na massa. O recurso “Linear advance”, por mais legal que seja, provavelmente não será possível de se utilizar aqui sem ter que fazer modificações significativas.

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A placa-mãe da Anycubic é a Trigorilla Pro A V1.0.4, desenvolvida por ela mesma. Nós pedimos mais detalhes sobre essa placa, mas a Anycubic nos disse que os detalhes não podem ser revelados publicamente, então aqui está o que sabemos.

Os drivers de passo (TMC2209s nos eixos X, Y e Z e MS35775 no da extrusora) estão soldados à placa, então você não vai poder substituí-los, embora eles funcionem nos modos UART ou SPI, o que significa que recursos mais avançados são possíveis com essa placa. Um exemplo desses recursos é o homing sem sensores de fim de curso que a Kobra traz. É raro ver isso em uma impressora no mercado. Você não vai encontrar nenhum sensor de fim de curso físico ao longo dos eixos X e Y da máquina, sejam óticos ou de qualquer outro tipo. Em vez disso, a máquina registra a resistência da cabeça de impressão quando ela atinge seus limites físicos e corta o movimento. É inteligente.

Nós descobrimos durante os testes que configurações básicas como os eSteps e fluxo precisavam de ajustes logo de cara. O recurso “Linear advance” também não é possível a menos que você use um firmware customizado. A interface de usuário padrão da Anycubic e suas opções são restritas apenas a funções básicas: carregamento de filamento, controle de temperatura, movimento, nivelamento e offset Z. Para qualquer coisa mais avançada, você vai precisar de uma plataforma de controle e host como o OctoPrint ou o Pronterface.

Ambas as máquinas vêm com espaços de construção muito semelhantes e na faixa típica de impressoras de porte médio.

A Ender 3 S1 da Creality tem um espaço de construção de 220 x 220 x 270 mm, que difere das Ender 3s anteriores pelos seus extras 20 mm em Z. Nada demais.

Já na Anycubic Kobra, você vai encontrar o espaço de construção um tanto quanto incomum de 222 x 222 x 252 mm, 2 mm a mais em todos os eixos do que a Creality Ender 3 V2 e absolutamente irritante para quem gosta de números redondos. É um espaço de construção que parece se tratar de uma estratégia de superioridade (mesmo que mínima), mas se você precisar de mais espaço, a Anycubic tem também a Kobra Max, uma impressora com um maior espaço de construção, com 400 x 400 x 450 mm. Vale mencionar que a Kobra Max tem pouco em comum com a Kobra. O que é confuso.

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De todo modo, as duas impressoras são capazes de lhe fornecer espaço suficiente para iniciar sua jornada de impressão 3D. Uma impressão raramente preenche toda uma plataforma deste tamanho. É improvável que qualquer pessoa que esteja apenas iniciando na impressão 3D precise de mais espaço do que essas impressoras fornecem.

Aqui temos duas plataformas de impressão semelhantes mas visivelmente diferentes, sendo a melhor delas dependendo da preferência pessoal de cada usuário. São duas chapas de aço flexível, que se fixam magneticamente à mesa aquecida e que são soltas facilmente para remover impressões através de uma leve torção na plataforma. Em tese, você nunca mais vai precisar usar uma espátula para remover impressões com esse tipo de plataforma.

A plataforma da Anycubic difere por ser uma chapa texturizada revestida de PEI. PLA e TPU adoram isso e devem ficar grudados igual adolescentes ao TikTok. O PETG pode ser um pouco mais complicado, pois ele gruda até demais na plataforma de impressão, e isso pode exigir uma separação um pouco mais forçada, assim como adolescentes e TikTok. Enfim.

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A impressão com PETG pode ser facilitada com a aplicação de uma fina camada de cola antes da impressão, mas você vai ver que a superfície da plataforma de impressão deixa uma marca texturizada em suas primeiras camadas devido a essa textura granulada, e isso pode ser bem irritante. Nós testamos essa plataforma durante nossa análise da Anycubic Vyper, e isso nos frustrou bastante.

A plataforma de aço flexível da Creality é revestida de PC com uma textura muito menos granulada. Ela ainda tem uma textura, mas não é tão áspera e não deve deixar suas primeiras camadas parecendo o asfalto de um estacionamento velho. É a melhor plataforma de impressão de todas as Ender 3 até hoje e oferece excelente aderência em todos os materiais que testamos. Ela também é fácil de tirar e colocar na mesa, e as impressões costumar sair com uma leve flexão. A única coisa irritante dela é a falta de guias para alinhar a plataforma com a mesa. Tirando isso, é ótima.

As duas impressoras contam com nivelamento automático da mesa, embora com sensores diferentes.

A Creality utiliza seu sensor CR Touch, uma versão do BL Touch própria da marca. Esse sensor faz uso de uma sonda táctil de metal. Sua função é encostar levemente em 16 pontos diferentes na plataforma de impressão, assim como um sistema BL Touch. A ideia aqui é registrar todos os desníveis da plataforma de impressão e fornecer uma superfície maravilhosamente plana para se imprimir.

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A propósito, na Ender 3 S1 você ainda tem as manivelas de nivelamento manual embaixo da mesa para fazer um nivelamento prévio. Entretanto, essas manivelas não estão presentes na Anycubic Kobra, sendo uma máquina que conta apenas com o nivelamento automático para aprimorar suas primeiras camadas.

Anycubic usa o nome LeviQ para todos os sistemas de nivelamento automático de suas impressoras mais novas. Ela difere da sonda da Creality por ser uma sonda indutiva. Esse tipo de sensor gera um campo magnético e registra a aproximação de qualquer coisa metálica que interfere nesse campo.

Naturalmente, esse tipo de sonda não funciona muito bem com plataformas de impressão não metálicas. A distância de detecção é curta, geralmente apenas alguns milímetros, e por isso superfícies grossas e não metálicas como vidro não funcionam bem com ela. Aqui, a Anycubic usa uma chapa de aço flexível. Não é nada demais, mas funcionou bem durante o nosso testes e, no final, é ótimo não ter que nivelar a mesa manualmente.

Para as interfaces de usuário, temos aqui um par de LCDs de 4,3 polegadas. Um é touchscreen e o outro não – então não adianta tentar cutucá-lo.

Foi a Anycubic que escolheu o sistema touchscreen neste caso, e verificamos que a tela apresenta duas qualidades que certamente nos faltam numa reunião de segunda-feira de manhã: ela é clara e responsiva.Porém, algumas pessoas podem ficar um pouco frustradas com suas inconsistências. Por exemplo, para definir a temperatura, você digita um número. Mas, para movimentar a cabeça de impressão para se trabalhar na máquina, são necessários repetidos toques em valores de 0,1, 1 ou 10 mm, o que é chato.

A Creality preferiu um botão giratório em vez da tela touchscreen. Uma escolha segura, fácil de usar e com imagens claras e opções simples. Há pouco mais a relatar.

As duas interfaces de usuário fazem o que você quer que elas façam, logo a escolha vai depender da sua preferência. Mas você com certeza não irá se desapontar com nenhuma delas. A Anycubic pode potencialmente lhe frustrar mais.

Embora não seja tecnicamente “interface de usuário”, queremos mencionar aqui também a questão do cartão SD. A Creality só aceita cartões SD de tamanho normal na S1, o que é bem-vindo. A Anycubic Kobra aceita apenas cartões MicroSD, que são tão pequenos que podem desaparecer no instante em que caírem das suas mãos. Se cair atrás de um armário, então, você vai ter mais chances de encontrar El Dorado do que ver aquele cartão novamente. Que baita dor de cabeça que esses cartões são. Em se tratando de cartões SD, os de tamanho normal são os melhores.

São duas extrusoras diretas aqui, ambas com forte desempenho.

A nova extrusora direta “Sprite” da Creality realmente nos impressionou durante nossos testes no começo desse ano. Trata-se de uma extrusora de engrenagem com uma redução de 3,5:1 e com engrenagens duplas que prendem e empurram o filamento. Ela pesa apenas 210 gramas, cerca de 60 a mais do que a extrusora Bowden encontrada da Ender 3 V2 — um feito bastante impressionante. Sendo capaz de aquecer até os 260 ℃, ela pode trabalhar com materiais como o PLA, ABS, PETG, TPU e qualquer outra considerada como filamento de consumidor “básico”.

Durante nossos testes com a S1, a Sprite nos impressionou com seu simples carregamento e descarregamento de filamento e com sua consistência. Não tivemos nenhum entupimento, o que é sorte, pois desmontar extrusoras diretas como essa pode ser uma grande tarefa. Confiabilidade e consistência são características muito desejáveis aqui.

A extrusora direta da Anycubic tem algumas deficiências, mas está longe de ser ruim. Essa extrusora nos lembra um pouco da E3D Titan Aero, embora seu bloco de aquecimento maior e a alavanca de liberação de filamento estilo Bondtech deixem bem claro ser uma extrusora bem diferente. A grande decepção aqui são suas engrenagens dentadas que mastigam demais o filamento, podendo acumular pedaços de filamentos entre seus dentes. Isso vai reduzir eficácia da extrusora ao longo do tempo, e você vai precisar limpá-la com uma escova ou ar comprimido. Longe do ideal.

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Nós tivemos um entupimento com a Kobra, e bateu um certo desespero quando percebemos que teríamos que desmontar toda a extrusora, mas no fim deu tudo certo. Na verdade, a Kobra é bastante amigável a ajustes, sendo simples e fácil de se desmontar. Nós descobrimos que a nossa máquina veio com um tubo de PTFE com o comprimento errado. Trocando o bico e o tubo de PTFE (que é fornecido como peça de reposição), a impressão foi rapidamente retomada.

Uma diferença fundamental entre essas duas impressoras está no eixo Z.

A Ender 3 S1 da Creality possui um eixo Z com duplo acionamento que deve melhorar a estabilidade e a precisão nas impressões de modelos mais altos. Trata-se de um upgrade popular nas máquinas mais antigas da série Ender 3, e pode-se dizer que é muito mais importante em uma máquina com uma extrusora direta pois o peso extra na cabeça de impressão pode gerar alguns efeitos indesejáveis. Vale mencionar que, durante o nossos testes com a S1, não tivemos qualquer sinal de problemas, o que sugere que a Creality acertou em cheio.

Mas saiba que também não vimos nenhum problema no eixo Z da Anycubic Kobra. Que é curioso por ela possuir um único eixo Z acionado por fuso. Nós preferiríamos que ela trouxesse uma configuração de acionamento duplo como a da S1. Embora nos testes não tenhamos encontrado sinais de que o único eixo Z tenha causado problemas, não podemos ter a certeza de que será assim com o passar o tempo. Infelizmente, os usuários só vão descobrir se a Anycubic fez a escolha certa aqui após um longo período de uso.

No final das contas, eixo Z de duplo acionamento é um item de luxo e não garante uma melhor qualidade de impressão. Não tivemos problemas com a qualidade de impressão devido a vibrações durante nossos testes com a Kobra, mas caso você tenta, tente reduzir a velocidade de impressão um pouco. Isso deve reduzir as vibrações o suficiente para que o único eixo Z consiga ficar firme. Realmente, o duplo acionamento do eixo Z e a estabilidade adicional que ele gera podem não trazer nenhum efeito perceptível às suas impressões. Mas não significa que não seja uma coisa bacana de se ter.

Com essas duas máquinas, você provavelmente vai ficar com o bom e velho Cura como seu fatiador principal. Além de ser o fatiador padrão fornecido para ambas as máquinas (embora customizado com cores da Creality para essa impressora), ele foi recentemente atualizado com uma versão Beta do novo Cura 5.0. Independente de ser uma versão antiga ou a mais recente, o Cura é um robusto e confiável software de fatiamento que deve lhe servir bem, seja você um iniciante ou um veterano em impressão 3D. A Anycubic não tem um fatiador proprietário para sua Kobra, sendo o Cura o software que a empresa recomenda.

Sendo as duas máquinas compatíveis com G-code, tanto a Kobra como a Ender 3 S1 funcionam com outras alternativas populares, como o PrusaSlicer.

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Apesar de apresentarem especificações semelhantes, há uma diferença de preço de proximadamente USD $90 entre essas duas máquinas.

A Ender 3 S1 da Creality custa USD $351 (embora já vimos ser anunciada por mais em alguns lugares) e a Kobra da Anycubic custa apenas USD $259.

Uma impressora 3D com nivelamento automático e extrusora direta por USD $259 é um ótimo negócio. A Anycubic realmente conseguiu criar um belo produto aqui e o fez sem cobrar demais de seus clientes. É preciso reconhecer isso. Entretanto, você consegue observar onde as economias foram feitas em alguns casos.

Para começar, toda a impressora tem uma aparência um pouco inferior. Você enxerga seu baixo custo em seus componentes plásticos e em alguns detalhes aqui e ali que poderiam ter feito essa uma máquina parecer muito mais atraente. Um único eixo Z também não é ideal, e resta descobrir se isso vai gerar algum problema no futuro. No entanto, por tudo o que você recebe e pela experiência de impressão que ela oferece, o preço de USD $259 é realmente impressionante.

A S1 vai lhe custar USD $90 a mais, mas é uma máquina um pouco melhor acabada e tem a vantagem de imprimir um pouco melhor. Ela também não requer os ajustes que a Kobra precisou. Mas isso vale os USD $100 a mais? Isso é para cada pessoa decidir.